O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL - LIÇÃO 2
A Bíblia de Estudo Apologia
Cristã explica bem a questão da origem sacerdotal levita de Elcana, pai de
Samuel. Apesar de a clã estar estabelecida em Efraim, sua árvore genealógica
mostra sua descendência de Coate, filho de Levi, conforme 1 Crônicas 6:33-38:
Estes
são, pois, os que ali estavam com seus filhos; dos filhos
dos coatitas, Hemã, o cantor, filho de Joel, filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliel, filho de Toá, filho de Zufe, filho de Elcana, filho de Maate, filho de Amasai, filho de Elcana, filho de Joel, filho de Azarias, filho de Sofonias, filho de Taate, filho de Assir, filho de Ebiasafe, filho de Corá,filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, filho de Israel.
No texto surgem os nomes de Elcana, o pai de Samuel; o pai
de Elcana, Zufe, que inclusive dá nome a aldeia em que moravam; Eliel e Toá são
nomes que aparecem modificados em 1 Samuel 1:1 com os nomes de Eliá e Toú. E a
descendência levita por meio do filho de Levi, Coate. Daí a base do pleno
direito de Samuel em exercer o ministério sacerdotal.
A QUESTÃO DA POLIGAMIA
Algumas práticas de uma cultura
se impõem com pujança em determinados grupos sociais. Um destas práticas do
mundo bíblico do AT se revela por meio da poligamia (casamento com mais de uma
mulher).
Desde o Gênesis a orientação
divina era clara quanto ao dever da prática da monogamia no casamento: deixará
portanto o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão
ambos uma carne. Gênesis 2:24
O convívio por anos com culturas
onde se praticava a poligamia como entre o povo egípcio e os cananeus,
influenciaram a tal ponto na formação das famílias patriarcais dos hebreus que
o Senhor precisou regulamentar tais práticas quando do estabelecimento da Lei:
Quando um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem
despreza, e a amada e a desprezada lhe derem filhos, e o filho primogênito for
da desprezada, Será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver,
não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da
desprezada, que é o primogênito. Mas ao filho da desprezada reconhecerá por
primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é
o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele. Deuteronômio
21:15-17
Não que o Senhor estivesse
aprovando tais práticas, pelo contrário. O próprio Jesus censurou os judeus por
desajuste semelhante, a prática do divórcio, alertando que no início não fora
assim: Disse-lhes ele [Jesus]: Moisés, por causa
da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao
princípio não foi assim. Mateus 19:8
Desta
forma, a lei mosaica quando se refere ao casamento com mais de uma mulher não
está referendando de forma alguma esta tal prática, mas foi editada para
garantir um mínimo de segurança social ao primogênito, se este for filho da
mulher não amada, e assim não serem praticadas injustiças e discriminações
comuns aos demais povos.
A
maioria dos comentaristas bíblicos neste ponto alertam para a permissão da
prática pelos hebreus da poligamia na época, porém suas consequências no seio
do clã eram desastrosos ao longo de toda a história. Como exemplo, o tenso ambiente familiar na casa de Abraão, o
pai da fé.
A
razão de tais práticas no meio de Israel se dava talvez por conta da
esterilidade feminina, algo vergonhoso para a mulher (Jô 24:21; Gn. 11:30; 29:31)
e que gerava no homem preocupação com a herança (gn. 15:2). Assim a esposa
consentia em seu marido gerar filhos por meio de uma escrava, como no caso de
Sara e Agar. Mas a recomendação era de que o filho pertenceria tão somente à
esposa. No caso de Agar o problema do conflito no ambiente familiar foi
terrível, a ponto de Sara forçar a expulsão da concorrente com o seu filho
depois que ela gerou a Isaque. Como ainda não estava em vigor a Lei, o próprio
Deus interveio se manifestando em forma de teofania e assegurando a
sobrevivência e futuro de Agar e seu filho Ismael (Gn. 16:1-13).
No
caso de Ana, se repete modo semelhante a cena, em forma de humilhação, deboche,
desfeita de Penina para com Ana que a tudo humildemente suportava. Nem mesmo
quando de uma festa religiosa, momento propício de confraternização e
tolerância Penina perdia a oportunidade irritar a Ana, que a tudo suportava com
graça, em meio a lágrimas de angústia e dor. (1 Samuel 1:4-7)
Hoje na
sociedade moderna se pratica o poliamor, poligamia disfarçada de relação
amorosa. Diferente do caráter do AT de preservação da linhagem familiar, hoje a
prática é resultado da perversão sexual mesmo.
VIDA PIEDOSA
Elcana
mantinha sua prática devocional oferecendo sacrifícios anuais em Siló ao Senhor
dos Exércitos (Yahweh Sabaoth), termo que aparece pela primeira vez no AT no
texto que fala sobre o nascimento do profeta Samuel e é recorrente neste livro
(1 Samuel 1:4,10, 4:4; 15:2; 17:45). A designação Senhor dos Exércitos descreve
Yavé como o Senhor soberano das hostes de estrelas, de anjos e dos exércitos de
Israel. (Wiersbe)
As
lutas e tribulações no ambiente familiar muitas vezes tentam nos afastar da
vida de comunhão e adoração com o Senhor, no entanto, tais lutas também podem
servir de combustível para alimentar nossa busca a deus em oração. Conforme (xxxx) “a adoração constante
oferecida ano após ano por Elcana e sua família estabeleceu um exemplo positivo
de vida fiel e piedosa; em contraste, sabia-se que os líderes sacerdotais levavam
vidas escandalosas (1 Samuel 2.12-17).
SAMUEL:
FRUTO DA ORAÇÃO
E assim fez Ana, depois de anos recebendo
provocações e desaforos por parte de sua opositora, Penina. Manteve-se humilde
suportando tais afrontas. Aflita, um dia entrou no templo para orar, a fim de
buscar socorro em ocasião oportuna (Hb. 4:16). O Antigo Testamento não explica
a origem do templo em Silo, onde a tenda da congregação foi armada depois da
conquista de Canaã (Js 18.1). Silo foi o principal santuário dos israelitas em
todo o período dos juízes (Jz 21.19), mas não se sabe quando a tenda com
armação de madeira foi substituída por uma estrutura permanente (Baldwin).
Sua
aflição tamanha parecia o ato de uma mulher cheia do vinho, embriagada, aos
olhos do sacerdote Eli. Às vezes corremos o risco de ter preconceitos e assim fazer
um mau juízo de valor em relação a atitudes de outras pessoas. Ana se esvaziava
ao derramar sua alma diante do Senhor. Os líderes espirituais do povo de Deus
precisam de sensibilidade espiritual para chorar com os que choram e se alegrar
com os que se alegram – Rm. 12:15 (Wiersbe)
Em
meio às suas orações, inclui um voto, um compromisso de entregar a Deus o filho
caso o Senhor a fizesse conceber. Aqui fica mais uma lição prática para vida: o
que motiva as nossas orações? Tiago afirmou que às vezes oramos e não recebemos
por que pedimos mal para gastar em nossos próprios deleites. Para que mais
tempo de vida, mais dinheiro, mais saberes ?
O
fato de como o Senhor livrou a Ana da humilhação prenuncia como o Senhor irá
livrar o seu povo de seus inimigos por meio do seu filho (Samuel) e do rei que
ele ungirá, como a própria Ana antevê em seu cântico de gratidão. (Chislholm)
Em
uma época em que os cananeus adoravam a Baal , o deus da fertilidade agrícola e
humana, Ana adora ao único e verdadeiro Deus (Chisholm); enquanto os povos
ofereciam aos deuses em sacrifício á morte seus próprios filhos, Ana oferecia a
vida inteira e serviço a Deus do seu filho.
O que estava em jogo era a glória de Deus e o
cumprimento dos seus propósitos não apenas em uma vida, mas a Sua ação na
história. Deus lembra de Ana. Assim o menino Samuel nasceu, tronou-se um grande
juiz, profeta, libertador e sacerdote, além de garantir a transição do governo
dos juízes para a monarquia teocrática em Israel. Deus ouviu a oração de Ana e
assim o nome de Deus foi e é glorificado, exaltando o poder do seu ungido.
Eli
exerceu uma de suas prerrogativas de sacerdote abençoando a mulher aflita,
desejando que o Senhor atenda ao pedido que pediu. E Ana, que tinha como
significado do nome “ mulher cheia de graça” (Wiersbe), rogou e confiou na
graça de Deus sobre sua vida. E foi atendida.
Ana
soube em atitude de humildade e fé direcionar as razões do seu pedido para
glorificação do se Deus Todo poderoso, o Senhor dos Exércitos, dedicando o seu
filho a Deus, inclusive lhe comprometendo com o voto de nazireu, previsto em
Números 6.1-25.
Ela
não tinha a garantia de ter outros, apesar de a graça de Deus não ser limitada,
fazendo-a conceber outras vezes. Mesmo assim depois do menino desmamar, três
anos depois, ela entrega sua oferta maior ao sacerdote Eli, em profundo ato de
adoração ao Senhor.
E
assim Israel ganhou um profeta, um sacerdote, um líder que, embora sendo rejeitado
circunstancialmente pelo povo, teve seu ministério reconhecido e honrado por
Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BALDWIN, Joyce G. I e
II Samuel – introdução e comentário – Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições
Vida Nova, 1996
Bíblia de Estudo Apologia
Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2009
CHISHOLM Jr,, Robert
B. Samuel 1 e 2 - Série comentário expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova,
2017
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico do
Antigo Testamento. Vol.2 . São Paulo: Geo-Gráfica e Editora, 2010.
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_(Bíblia)