A ação do evangelho proporciona ao
homem que aceita e segue os seus preceitos a verdadeira liberdade (João
13.38) A liberdade de todo o pecado, e
sua influência. Esta influência, o engano e a sedução, tem na maioria das vezes
como pano de fundo as expressões culturais do grupo social, na maior parte vezes alimentada pela indústria cultural.
Seria ingenuidade combater as
expressões culturais seculares vendo pecado em toda forma de cultura, porém
nesse caso é preciso discernimento para separa o joio de trigo e assim examinar
criteriosamente, com base na Palavra, as expressões culturais retendo o que é
bom. (I Tessalonicenses 5.21) “Não vos conformeis com o mundo, mas
transformai-vos pela renovação do vosso entendimento”. Rom. 12.1.
Além disso, faz-se necessário expressar a cultura cristã através da prática de vida e dos meios
disponíveis ao se passar por uma mudança do antigo estilo de vida costumeiro.
Percebendo esta necessidade,
aliada ao confrontamento ao sectarismo judaizante, o apóstolo Paulo propôs usar
da liberdade conquistada ao aceitar o sacrifício vicário de Cristo na cruz para
passar a viver como escravo de todos
para assim alcançá-los com a verdade do Evangelho através do processo de
aculturação, processo pelo qual duas ou mais culturas diferentes, entrando em
contato contínuo, originam mudanças importantes em uma delas ou em ambas:
Paulo se fez de judeu para ganhar
os judeus. Olhe que Paulo era judeu de origem mas fora liberto da cultura
religiosa judaizante. Também se fez de
fraco para ganhar os fracos; fez-se tudo para todos, para por todos os meios
chegar a salvar alguns. (I Coríntios 9.19-27)
Este é o princípio básico de
conduta de todo pastor, missionário ou evangelizador ao interagir no contexto
socio-cultural. Falar a língua do povo. Vestir-se como o povo se veste. Comer o que o povo come. A ponto de Paulo
visitar o panteão, o templo multiuso dos deuses em Corinto e encontrar o lugar
reservado ao Deus desconhecido. Esta foi a porta que lhe foi aberta para
proclamar as boas novas àquele povo. Atos 17.23. Mostrou que o Deus
desconhecido por aquela cultura era o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o
Pai de nosso Senhor e salvador Jesus Cristo. Interagiu com a cultura local para
expressar as verdades do Evangelho.
Para isso é preciso entender a
cultura do outro e a esta se adaptar. Conforme o pr. Rick Warren, da Igreja de
Saddleback, recomendou em seu livro Igreja com Propósitos, Jesus ensinou aos
seus discípulos “ a necessidade de voltarem para a cultura dos que estavam
querendo alcançar. Eles precisavam adaptar-se aos costumes da terra, desde que
não violassem os princípios bíblicos”. (Warren, 2008, p. 174.)
O pastor David Fisher por sua vez
ressaltou em seu livro O Pastor do Séc. XXI “que todo trabalho de um pastor é uma
experiência transcultural” (Fisher, 1999, p.42):
Os pastores não deviam apenas conhecer os seus
endereços, mas amar aos seus vizinhos. A adaptação e o respeito cultural têm
muito que com o ministério pastoral eficiente do que muita gente pensa .
PERIGOS. Warren afirma que a Igreja
precisa fazer pequenas concessões para se atuar em qualquer tipo de cultura.
Questiono no entanto práticas que
considero perigosas. Por exemplo, quando igrejas criam escolas de samba, blocos de
micareta ou festas raves com rótulo gospel. Reconheço que muitos crentes
maduros usem tal estratégia de maneira a ganhar outros para Cristo. O fim seria
válido. Entretanto não creio ser este um meio ideal e acredito que também pode ser
usado como uma maneira do crente, reprimido pelo “não pode”, cair na gandaia. Conheço irmãos e irmãs que se
envolveram de tal maneira em campanhas políticas que perderam o rumo. Nos shows
gospel muitos vão adorar ao Senhor, porém uma boa parte se solta na buraqueira e fazem de tudo que os ímpios fazem e às vezes com maior intensidade.
Mas ainda temos os marcos antigos
que precisam ser preservados. Deutoronômio 19.14 e Oséias 5.10; liberdade sim, concordo; libertinagem,
jamais. Leia I Coríntios 8.9 e Gálatas 5.13.
ACULTURAÇÃO. O mestre Jesus nos deu o exemplo maior de aculturação. "a Palavra de Deus se fez homem: aculturou-se, já que o home é um ser cultural." (Padilla, 1992, p.97). pois veio Jesus ao mundo justamente para “ transformas
pessoas e grupos étnicos..., significa que Deus leva a sério a cultura humana.” (Fisher, 1999), conforme Paulo ratificou ao escrever aos Filipenses,
“Subsistindo
em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia
aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo,
tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si
mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.”
Filipenses 2.6-8.
Assim em um processo de
aculturação com fins evangelísticos a pessoa vive a vida como o outro vive,
come-se com publicanos e pecadores, mas sem pecar como o outro peca, para
apresentar-lhes o evangelho e a salvação que há em Cristo Jesus. " Ou a mensagem de Deus chega em termos de sua própria cultura, ou não chegará." (Padilla, 1992, p9.4).
Adaptar-se a outra
cultura porém não é fácil. Mas é isso que se espera dos comissionados: “ É tarefa
do evangelista intercultural aprender a transmitir significados bíblicos mediante
formas culturalmente aceitas, fazendo-se a distinção entre “princípios bíblicos
permanentes e formas culturais temporais.” (Pate, 1987)
Os pastores dão o exemplo quando
assimilam o modus vivendi de suas comunidades, conforme destaca o pastor Fisher. E assim,
“A Igreja deve mergulhar profundamente na sua cultura. Aprendendo a nos
identificar com o povo ao qual Deus nos
enviou a ganhar.”
Para salvar alguém do poço é preciso saber entrar e sair dele,
tendo o cuidado com a doutrina para garantir a salvação de ambos, combatendo com a própria vida contra o pecado. Hebreus 12.4; I Timóteo
4.16.
Referências Bibliográficas:
PADILLA, René C. Missão
Integral: Ensaios sobre o reino e a igreja. 1ª edição, São Paulo: FTL-B
Temática, 1992;
PATE, Larry D. Missiologia: a
missão transcultural da Igreja. 1ª edição, São Paulo: Editora Vida, 1987:
WARREN, Rick. Uma Igreja com
Propósitos. Tradução de Carlos de Oliveira. 2ª edição revista e atualizada. São
Paulo: Editora Vida, 2008;
FISHER, David. O Pastor do
Século 21. 1ª edição. São Paulo: Editora Vida, 1999.
Um comentário:
Caro irmão João Ribeiro, neste domingo estaremos falando um pouco sobre a influência cultural da igreja, não é isso mesmo? Uma cultura que o apóstolo Pedro definiu como: “geração eleita, sacerdócio santo,...”. Paulo de certo tinha maturidade e direcionamento para usar esta estratégia, conhecia muito bem a “sua cultura”, assim, poderia procurar entender melhor as “outras culturas” para poder tentar ganhar alguns, e “ganhou muitos” pela graça de Deus. Entretanto, acredito que hoje em dia precisamos cada vez mais se lembrar dos ensinamentos de Jesus, quando Ele dizia: ”Todavia no princípio não foi assim”. As coisas estão mudadas e não se sabe mais qual a verdadeira identidade da igreja. Assim sendo, como iremos influenciar? Influenciar o quê?
Um abraço,
Esdras Neemias dos Santos
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