INTRODUÇÃO
A figura do profeta Elias surge em meio a uma crise
espiritual sem precedentes na história do Reino de Israel. O rei Acabe contrai
matrimônio com uma estranha adoradora de Baal e dela sofre influência a ponto de
mergulhar de vez na idolatria, trazendo consequências funestas tanto para si
quanto para o seu povo.
Elias então entra em cena. De origem praticamente
desconhecida (sabe-se apenas que ele era natural de um pequeno lugarejo, Tisbe),
o seu porte o identifica como alguém diferente dos demais. Sobretudo porque porta,
como homem algum até então, uma mensagem que bate de frente com as posições reais,
levantando-se como um nabi, profeta do Senhor.
Alguns termos bíblicos definem o ofício de profeta.
Primeiramente podemos citar a expressão “homem de Deus”, que quer dizer “mais
intimamente ligado a Deus do que os outros homens”. Tinha uma característica
especial de operar milagres.
Também tem o sentido de vidente ou visionário (ro’eh e
hozeh). Conforme Davidson, “a "visão" do profeta resulta
exclusivamente dum dom sobrenatural, independente da vontade do mesmo profeta,
pois o objeto dessa visão é revelado por Deus.”
O termo mais usual para designar o profeta (nabî’) é citado
cerca de 315 vezes no AT e tem origem no verbo nb’, embora com sentidos bem
distintos como “profetizar”, atuar, ficar frenético, dançar ritualmente.
Este último termo designa a pessoa escolhida por Deus como
porta-voz da Sua mensagem aos homens quanto à realização do presente e uma
visão para o futuro.
VOCAÇÃO MINISTERIAL
Vocação, vem do latim vocare, ato de chamar ou invocar,
intimação. A vocação eclesiástica parte primeiramente da vontade soberana de
Deus que chama, separa e comissiona, conforme podemos tomar como exemplo o
chamado do próprio Jeremias:
"Assim veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Antes
que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te
santifiquei; às nações te dei por profeta." Jer. 1.4-5.
Convocação de Deus
A princípio, atônito, Jeremias tenta argumentar, imagine,
com o próprio Deus, tentando fugir do chamado. Semelhante a Jonas, porém com
diferença de postura: Jonas ouviu o chamado: levanta-te, no sentido original,
dispõe-te! Mas não deu ouvidos, fugiu! Tinha ele suas razões. Mas, o arrazoar
do homem não muda a condição da necessidade do atendimento ao chamado, muito
embora seja passível de ser ignorado. Não gosto muito desta expressão, mas a
verdade é que paga-se o preço. Resistir ao chamado, nada mais doloroso é na
vida do vocacionado; sofrer por atender ao chamado é melhor do que sofrer por
não atendê-lo.
O lado de Deus diz: E a uns pôs Deus na igreja,
primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois
operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de
línguas.I Co 12.28. Vocação invariavelmente acompanhada dos devidos dons
ministeriais.
O lado do homem diz: - Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim!
(Isaías 6.8) Ou obstinadamente diz: não, não vou, não posso, não passo de uma
criança (Jeremias 1.6), não sei falar, sou pesado de língua (Êxodo 4.10); sou o
menor na casa de meu pai (Juízes 6.15).
Existe também o lado do anelo do homem, cada vez mais raros,
em exercer o ministério: Quem deseja o episcopado, excelente obra deseja (I
Timóteo 3.1), incentivou Paulo! Mas nem todos podem receber esta palavra.
O filho do pastor necessariamente não deve e nem pode ser
cobrado a acompanhar os passos do pai, se para isso não foi chamado por Deus. Muito menos as exigências podem ser maiores sobre eles por simplesmente serem filhos do sacerdote. Muito menos pode ser “ungido” pelo “paistor”
simplesmente para se manter na hierarquia eclesiástica, muito embora também
podem ser alvo da convocação divina, que também os prepara e comissiona, como os demais.
As riquezas por sua vez podem até comprar título e cargos,
amizades, facilidades ministeriais, posições na estrutura de governo humana da
organização, mas não conquistam a posição que vem da chamada e da unção de
Deus. E muitos podem ter seus ministérios retardados, esquecidos ou não
descobertos simplesmente porque não se usou do costume da igreja de orar antes
de separa alguém para a obra do ministério.
Saudades das manhãs, tardes missionárias, vigílias
despretensiosas que incendiavam corações com o fogo vivo da chama do Espírito
igualmente a iluminar de forma clara os caminhos do homem a fim de atentar ao
desejo de Deus em sua intimação do amor que nos constrange, nos motiva, nos
deixa sem saída.
Vale lembrar que todos nós cristãos somos vocacionados. Não
fostes vós que escolhestes a mim, mas eu que escolhi a vós (João 15.16), disse
Jesus.
Mas, então, qual o sentido da chamada? Chamados fomos para
sofrer, para alcançar degraus na hierarquia da igreja, para receber o título
pomposo, para sair rumo afora sem destino, sem pousada? Os vocacionados são
vocacionados, a exemplo de Jeremias, “para arrancar, e para derrubar, e para
destruir, e para arruinar; e também para edificares e para plantares” (Jeremias
1.5). Como Elias, somos chamados para enfrentar os profetas de baal dos dias
atuais, eles continuam os mesmos. E nós precisamos ser os mesmos.
Somos chamados para ir ao mundo e dar frutos (João 15.16);
para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz (I Pedro 2.9); para anunciar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4.19); para
pregar o evangelho, as boas novas (Atos 13.32); para desconstruir estruturas
psicológicas, emocionais montadas em valores passageiros e ativar o processo de
reconstrução, removendo os entulhos do pecado, e construindo uma nova casa
edificada sobre a rocha, que não cede aos ventos, mas serve de abrigo para
ministrar as palavras de esperança de Jesus Cristo aos desconsolados, os
desesperançados, os cansados, e assim cumprindo e dando sentido ao chamado de
Deus.
Os verdadeiros Profetas são mensageiros de Deus que andam na
contramão da história, normalmente para apontar os erros (e acertos) do
presente, as consequências no futuro e a esperança pelo retorno ao caminho
planejado por Deus.
O profeta chora quando todos sorriem; e sorri ao vislumbrar
a saída quando todos consideram que não há mais saída.
Andar na contramão é alertar que estiver fora do propósito
divino e confrontar a verdade de Deus às suas práticas nada louváveis. Assim,
reis, sacerdotes e profetas coniventes com o erro induzem o povo a pecar e
estimulam a continuação no erro.
Assim, o povo continua sua vidinha mais ou menos,
sacrificando nos altos e nos montes, e ainda tendo prazer em mencionar o nome
do Senhor e de se achar povo Seu.
Elias foi um destes profetas autênticos. Não exortava mal
por deboche, arrogância ou pirraça; falava não porque queria falar; profetizava
quando porque fora vocacionado por Deus à profetizar. Certa ocasião escutei um
pregador que disse que Deus lhe deu duas opções: ser um pregador ou um grande
empresário. Adivinha qual foi a sua escolha?
Mas muitos são os que ouviram a doce voz do dono da seara e partiram além fronteiras para atender ao chamado, à exemplo de Eliseu que queimou os arados no fogo e partiu para cumprir a sua vocação. Assim ainda temos homens e mulheres valorosos que deixaram a segurança e conforto do lar, do emprego, da empresa, da cultura, do seu país, e foram alcançqar os confins da terra levando a preciosa semente, embora gemendo e chorando, mas trazendo consigo os seus molhos. Glórias a Deus !
Profeta não tem opções. Era pregar ou pregar. Elias fora
escolhido, separado, comissionado. Não adiantaria estrebuchar; como um tipo de João
Batista, sofredor, solitário no deserto, profeta de Deus, um homem de Deus, e
isso nos basta.
Sem Profecia, o Povo
se Corrompe
Onde não há profecia, o povo se corrompe. Prov. 29.18
A razão de haverem profetas e profecias é simplesmente por
que as pessoas precisam da mensagem de amor de Deus para deixarem os caminhos
tortos ou continuarem andando no caminho certo. Os segredos do coração se
tornam manifestos, levando ao arrependimento e a consequente adoração (João
4.16 a 24; I Co. 14.19-26)
Sem profecias, o povo de Deus se corrompeu. Os reis,
inicialmente de Israel e, em seguida de Judá, deram ouvidos aos falsos profetas
da “paz, paz”(Jer. 6.14; 8.11), quando não há possibilidade para a paz.
Hoje algumas mensagens proféticas não diferem muito dos
tempos de Jeremias: bênçãos, vitórias, “receba, receba, receba!”, mensagens que
curam superficialmente a ferida do povo.
Poucas vezes ouvimos duros discursos. As pregações de uma
maneira geral se tornaram garapa de açúcar ao invés de ser ministrado o
remédio, embora amargo, mas que cura o doente.
CONCLUSÃO
Nos dias de Elias, as pessoas subiam aos altos e bosques,
queimavam incenso a deuses estranhos, a baal, deixando os caminhos do Senhor, porém
chegou a hora do ultimato, Elias trazia consigo a mensagem de correção do amor
de Deus para com o Seu povo. A mensagem de Elias consistia basicamente em
retratar o estado crítico do relacionamento do povo de Israel com o seu Deus, através das escolhas do seu
líder, o rei, e os impedimentos a este
relacionamento devido às práticas abomináveis ao Senhor e que lhes levaria a um
castigo iminente. Mas havia também no reino aqueles que não se curvavam perante
baal, e que assim o Senhor nos conserve, de joelhos diante Dele, e de pé diante
dos profetas de baal, para que todos reconheçam que só o Senhor é Deus.
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