Crescendo na graça e no conhecimento

11 de outubro de 2019

O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO (II)




Ramataim-Zofim, a vila do Profeta Samuel








Ramathaim-Zophim (no original hebraico: רמתיים־צופים ), significa “dupla altura de vigias,” por se localizar em um lugar alto e de boa visibilidade), também chamada Ramah (רָמָה). Ali era a morada de Elcana, pai de Samuel, membro da clã dos Zufe, (1 Samuel 1:1,19; 2:11); o local de nascimento de Samuel e a base de seu ministério (1 Samuel 2:11; 7:17). A cidade é frequentemente mencionada na história daquele profeta e de Davi (1 Samuel 15:34; 16:13; 19: 18-23). Onde Samuel morreu e foi sepultado (1 Samuel 25:1).



Atualmente esta cidade foi identificada com a pequena vila do Profeta Samuel (Nabi Samwil), localizada no território da Cisjordânia, sob controle de Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, ficando a cerca de 8 km a noroeste de Jerusalém. A vila de origem palestina foi instalada ao redor da tumba do profeta Samuel (nome da vila atual), onde funcionava uma mesquita e agora uma sinagoga. Com a ocupação israelita, sua população de cerca de 3.000 habitantes ficou reduzida para em torno de 30 famílias.



A mesquita na colina foi construída em 1730 a partir do que havia sido uma fortaleza e igreja da era dos cruzados de 1099, destruída pelos mamelucos no século XII. Acredita-se que foi a partir daquele topo da montanha que os cruzados viram Jerusalém pela primeira vez.



No final do século 19, uma vila judaica foi estabelecida na encosta, embora mais tarde tenha sido abandonada. Em 1917, foi o local de lutas entre turcos otomanos e britânicos, o que resultou na destruição do minarete original da mesquita (que foi reconstruído após a Primeira Guerra Mundial). Depois de 1948, tornou-se uma fortaleza árabe até a Guerra dos Seis Dias, em 1967.



Hoje, um parque nacional e sítio arqueológico abrangem o local da tumba, assim como os escombros da Guerra, estando toda a área sob forte controle de segurança israelita, reforçada com a construção dos Muros em Jerusalém.



O local atualmente serve de ponto turístico, onde judeus e muçulmanos vêm para adorar, e fazem isso de forma pacífica. O topo da colina oferece vistas da área circundante, incluindo a cidade de Jerusalém ao longe.




            https://www.atlasobscura.com/places/prophet-samuels-tomb
O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL - LIÇÃO  2


A Bíblia de Estudo Apologia Cristã explica bem a questão da origem sacerdotal levita de Elcana, pai de Samuel. Apesar de a clã estar estabelecida em Efraim, sua árvore genealógica mostra sua descendência de Coate, filho de Levi, conforme 1 Crônicas 6:33-38: 
Estes são, pois, os que ali estavam com seus filhos;  dos filhos dos coatitas, Hemã, o cantor, filho de Joel, filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliel, filho de Toá, filho de Zufe, filho de Elcana, filho de Maate, filho de Amasai, filho de Elcana, filho de Joel, filho de Azarias, filho de Sofonias, filho de Taate, filho de Assir, filho de Ebiasafe, filho de Corá,filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, filho de Israel.
No texto surgem os nomes de Elcana, o pai de Samuel; o pai de Elcana, Zufe, que inclusive dá nome a aldeia em que moravam; Eliel e Toá são nomes que aparecem modificados em 1 Samuel 1:1 com os nomes de Eliá e Toú. E a descendência levita por meio do filho de Levi, Coate. Daí a base do pleno direito de Samuel em exercer o ministério sacerdotal.


A QUESTÃO DA POLIGAMIA

Algumas práticas de uma cultura se impõem com pujança em determinados grupos sociais. Um destas práticas do mundo bíblico do AT se revela por meio da poligamia (casamento com mais de uma mulher).

Desde o Gênesis a orientação divina era clara quanto ao dever da prática da monogamia no casamento: deixará portanto o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Gênesis 2:24

O convívio por anos com culturas onde se praticava a poligamia como entre o povo egípcio e os cananeus, influenciaram a tal ponto na formação das famílias patriarcais dos hebreus que o Senhor precisou regulamentar tais práticas quando do estabelecimento da Lei:

Quando um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem despreza, e a amada e a desprezada lhe derem filhos, e o filho primogênito for da desprezada, Será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que é o primogênito. Mas ao filho da desprezada reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele. Deuteronômio 21:15-17

Não que o Senhor estivesse aprovando tais práticas, pelo contrário. O próprio Jesus censurou os judeus por desajuste semelhante, a prática do divórcio, alertando que no início não fora assim: Disse-lhes ele [Jesus]: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Mateus 19:8

Desta forma, a lei mosaica quando se refere ao casamento com mais de uma mulher não está referendando de forma alguma esta tal prática, mas foi editada para garantir um mínimo de segurança social ao primogênito, se este for filho da mulher não amada, e assim não serem praticadas injustiças e discriminações comuns aos demais povos.

A maioria dos comentaristas bíblicos neste ponto alertam para a permissão da prática pelos hebreus da poligamia na época, porém suas consequências no seio do clã eram desastrosos ao longo de toda a história. Como exemplo, o  tenso ambiente familiar na casa de Abraão, o pai da fé.

A razão de tais práticas no meio de Israel se dava talvez por conta da esterilidade feminina, algo vergonhoso para a mulher (Jô 24:21; Gn. 11:30; 29:31) e que gerava no homem preocupação com a herança (gn. 15:2). Assim a esposa consentia em seu marido gerar filhos por meio de uma escrava, como no caso de Sara e Agar. Mas a recomendação era de que o filho pertenceria tão somente à esposa. No caso de Agar o problema do conflito no ambiente familiar foi terrível, a ponto de Sara forçar a expulsão da concorrente com o seu filho depois que ela gerou a Isaque. Como ainda não estava em vigor a Lei, o próprio Deus interveio se manifestando em forma de teofania e assegurando a sobrevivência e futuro de Agar e seu filho Ismael (Gn. 16:1-13).

No caso de Ana, se repete modo semelhante a cena, em forma de humilhação, deboche, desfeita de Penina para com Ana que a tudo humildemente suportava. Nem mesmo quando de uma festa religiosa, momento propício de confraternização e tolerância Penina perdia a oportunidade irritar a Ana, que a tudo suportava com graça, em meio a lágrimas de angústia e dor. (1 Samuel 1:4-7)

Hoje na sociedade moderna se pratica o poliamor, poligamia disfarçada de relação amorosa. Diferente do caráter do AT de preservação da linhagem familiar, hoje a prática é resultado da perversão sexual mesmo.

VIDA PIEDOSA

Elcana mantinha sua prática devocional oferecendo sacrifícios anuais em Siló ao Senhor dos Exércitos (Yahweh Sabaoth), termo que aparece pela primeira vez no AT no texto que fala sobre o nascimento do profeta Samuel e é recorrente neste livro (1 Samuel 1:4,10, 4:4; 15:2; 17:45). A designação Senhor dos Exércitos descreve Yavé como o Senhor soberano das hostes de estrelas, de anjos e dos exércitos de Israel. (Wiersbe)

As lutas e tribulações no ambiente familiar muitas vezes tentam nos afastar da vida de comunhão e adoração com o Senhor, no entanto, tais lutas também podem servir de combustível para alimentar nossa busca a deus em oração.  Conforme (xxxx) “a adoração constante oferecida ano após ano por Elcana e sua família estabeleceu um exemplo positivo de vida fiel e piedosa; em contraste, sabia-se que os líderes sacerdotais levavam vidas escandalosas (1 Samuel 2.12-17).

SAMUEL: FRUTO DA ORAÇÃO

 E assim fez Ana, depois de anos recebendo provocações e desaforos por parte de sua opositora, Penina. Manteve-se humilde suportando tais afrontas. Aflita, um dia entrou no templo para orar, a fim de buscar socorro em ocasião oportuna (Hb. 4:16). O Antigo Testamento não explica a origem do templo em Silo, onde a tenda da congregação foi armada depois da conquista de Canaã (Js 18.1). Silo foi o principal santuário dos israelitas em todo o período dos juízes (Jz 21.19), mas não se sabe quando a tenda com armação de madeira foi substituída por uma estrutura permanente (Baldwin).

Sua aflição tamanha parecia o ato de uma mulher cheia do vinho, embriagada, aos olhos do sacerdote Eli. Às vezes corremos o risco de ter preconceitos e assim fazer um mau juízo de valor em relação a atitudes de outras pessoas. Ana se esvaziava ao derramar sua alma diante do Senhor. Os líderes espirituais do povo de Deus precisam de sensibilidade espiritual para chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram – Rm. 12:15 (Wiersbe)

Em meio às suas orações, inclui um voto, um compromisso de entregar a Deus o filho caso o Senhor a fizesse conceber. Aqui fica mais uma lição prática para vida: o que motiva as nossas orações? Tiago afirmou que às vezes oramos e não recebemos por que pedimos mal para gastar em nossos próprios deleites. Para que mais tempo de vida, mais dinheiro, mais saberes ?

O fato de como o Senhor livrou a Ana da humilhação prenuncia como o Senhor irá livrar o seu povo de seus inimigos por meio do seu filho (Samuel) e do rei que ele ungirá, como a própria Ana antevê em seu cântico de gratidão. (Chislholm)

Em uma época em que os cananeus adoravam a Baal , o deus da fertilidade agrícola e humana, Ana adora ao único e verdadeiro Deus (Chisholm); enquanto os povos ofereciam aos deuses em sacrifício á morte seus próprios filhos, Ana oferecia a vida inteira e serviço a Deus do seu filho.

 O que estava em jogo era a glória de Deus e o cumprimento dos seus propósitos não apenas em uma vida, mas a Sua ação na história. Deus lembra de Ana. Assim o menino Samuel nasceu, tronou-se um grande juiz, profeta, libertador e sacerdote, além de garantir a transição do governo dos juízes para a monarquia teocrática em Israel. Deus ouviu a oração de Ana e assim o nome de Deus foi e é glorificado, exaltando o poder do seu ungido.

Eli exerceu uma de suas prerrogativas de sacerdote abençoando a mulher aflita, desejando que o Senhor atenda ao pedido que pediu. E Ana, que tinha como significado do nome “ mulher cheia de graça” (Wiersbe), rogou e confiou na graça de Deus sobre sua vida. E foi atendida.

Ana soube em atitude de humildade e fé direcionar as razões do seu pedido para glorificação do se Deus Todo poderoso, o Senhor dos Exércitos, dedicando o seu filho a Deus, inclusive lhe comprometendo com o voto de nazireu, previsto em Números 6.1-25.

Ela não tinha a garantia de ter outros, apesar de a graça de Deus não ser limitada, fazendo-a conceber outras vezes. Mesmo assim depois do menino desmamar, três anos depois, ela entrega sua oferta maior ao sacerdote Eli, em profundo ato de adoração ao Senhor.

E assim Israel ganhou um profeta, um sacerdote, um líder  que, embora sendo rejeitado circunstancialmente pelo povo, teve seu ministério reconhecido e honrado por Deus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BALDWIN, Joyce G. I e II Samuel – introdução e comentário – Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2009
CHISHOLM Jr,, Robert B. Samuel 1 e 2 - Série comentário expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2017

 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico do Antigo Testamento. Vol.2 . São Paulo: Geo-Gráfica e Editora, 2010.  
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_(Bíblia)

4 de outubro de 2019


Conhecendo os dois livros de Samuel – Lição 01



 

Unção de David por Samuel, de Antonio González Velázquez 
(Real Academia de Bellas Artes de San Fernando.


Anarquia: do grego anarkhía, Negação de qualquer princípio de autoridade. Estado de um povo em que o poder governamental, de onde emana o equilíbrio da estrutura política, social e econômica, de fato ou virtualmente, desapareceu. De modo geral, ausência de governo, de liderança; desordem por ausência de autoridade reguladora; desregramento, desorganização; 5 Ausência de direção ou normas reguladoras (em empresas, organizações, entidades etc.). Estado de confusão e desordem. (Michaelis)


O cenário da vida sociopolítica e religiosa do povo de Israel à época dos Juízes (governadores) foi um ponto baixo na história de Israel (Chisholm Jr.), beirando a anarquia. Os juízes eram líderes tanto militares como judiciais, agindo em emergências, e limitados em suas fronteiras geográficas e pela natureza de seus cargos, visto não nomearem seus sucessores (Baldwin).


Após a morte de Josué e com as tribos se acomodando no território de Canaã, as tribos formaram uma confederação informal, distantes umas das outras, sem exércitos fixos para defender seus territórios, onde os Juízes eram as lideranças do povo, que surgiam esporadicamente levantados diretamente por Deus a fim resolver as questões políticas e religiosas. Uma teocracia que dependia da fidelidade e obediência a Deus.  Essa falta de liderança humana é afirmada no próprio livro de Juízes, lamentando a ausência de rei em Israel  (Juízes 18:1;19:1). O resultado é um estado de anarquia onde cada um fazia o que queria: Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos. Juízes 17:6; 21:25.


Os fatos que ocorreram nesse período confirmavam o povo de Deus chegou ao fundo do poço em termos  éticos, morais e espirituais, fruto de seus pecados: violência, sequestros, estupros coletivos, massacres de tribos e cidades inteiras, guerra civil, idolatria Chisholm Jr.). Tudo isso corroborava para que os inimigos da nova terra fossem de encontro às tribos e os derrotassem em algumas ocasiões. Israel vivia um ciclo de altos e baixos onde a lei de Moisés era ignorada e assim marcado por apostasia, opressão, aflição, arrependimento, libertação, paz, prosperidade. Depois o povo se esquecia de Deus e o ciclo se retomava.


Neste cenário surge a figura de Samuel. Segundo Warren Wiersbe, “Samuel foi usado num momento crítico da história de Israel, quando a frágil confederação de tribos precisava desesperadamente de orientação.”  O fundamental nesta narrativa é a comprovação de que Deus está no controle da História (Wiersbe; Purkiser). Os israelitas estudavam a história  porque tinham em vista compreender a natureza da relação de Deus com o seu povo. (Philbeck). A saga do povo hebreu está registrada nos livros da Torá (Lei), os Profetas e os Escritos). Os profetas eram divididos em Anteriores e Posteriores. Os livros de I e 2 Samuel estavam inclusos nos profetas anteriores, na Bíblia Hebraica (Chisholm Jr.).


Em 1 e 2 Samuel se acha a narrativa dos feitos do profeta, juiz e sacerdote, Samuel; Saul, que veio a ser o primeiro rei de Israel; e Davi, o maior e mais querido de  todos que já reinaram em Israel (Baldwin), sob a orientação de Deus, estão registrados nos livros de I e II Samuel. Tais “livros duplos” compunham nas Escrituras hebraicas apenas um livro, no bloco dos chamados profetas anteriores, junto aos livros de Josué, Juízes e Reis. Com a tradução do AT para o grego, estes livros foram apelidados de I e 2 Reis e os Reis atuais, de 3 e 4 livros dos Reis, chamados os quatro livros dos reinos (Baldwin), sendo alterado mais tarde para 1 e 2 Samuel.


Estes livros descrevem o desenvolvimento de Israel sob a liderança de Samuel, Saul e Davi, em um período de cerca de cem anos (Philbeck), considerados personagens essenciais na transição da teocracia para a monarquia em Israel (Baldwin). Ao que tudo indica, o público-alvo destes textos seriam os israelitas exilados que enfrentavam as consequências dos seus atos e de seus antepassados, contudo podem encontrar esperanças de que o Senhor é justo e de que, ao final, cumprirá suas promessas de acordo com a aliança celebrada com Davi (Chisholm Jr.).


Os estudiosos e a tradição rabínica consideram Samuel como autor do livro devido as próprias evidências internas. Já os fatos narrados no livro ocorridos após a morte de Samuel, descrito em I Samuel 25.1, são atribuídos aos profetas Natã e Gade, seguidores de Samuel. (Purkiser) Este material foi compilado mais tarde por pessoas que conscientemente lidavam com ele e tinham acesso a estes documentos e registros, a partir de um corpo bem maior de tradições antigas a respeito dos personagens principais Samuel, Saul e Davi. (Philbeck).


Samuel se tornaria um avivalista e reformador de sua época. Criado e formado junto ao sacerdote Eli, em Siló, onde foi fixado o tabernáculo como lugar de adoração, Deus levanta aquele homem como profeta, o primeiro de uma nova ordem de profetas após Moisés (Purkiser), fundando inclusive uma escola de profetas em sua época. Deus confirmava seu ministério profético não deixando que nenhuma de todas as suas palavras cair em terra (1 Sm 3.19). Além de ser Samuel sacerdote e o último dos juízes de Israel (Purkiser), segundo o estilo tríplice de Moisés (Baldwin).


Ele foi incumbido inicialmente de promover reformas religiosas em meio ao povo, que andava segundo o seu próprio querer, sem uma liderança temente a Deus, sob a influência do mau exemplo que viam no sacerdócio corrompido dos filhos do Eli, Ofni e Finéias, sob a atitude passiva do pai. Mais tarde o mau exemplo dos filhos sucessores do próprio Samuel, Joel e Abias, os quais estabeleceu em Berseba para que julgassem o povo. Segundo Flávio Josefo,  “em vez de seguir os passos do pai, se corromperam, vendiam a justiça, calcavam com os pés as coisas mais santa e chafurdavam-se em toda a sorte de impurezas, sem temor de ofender a Deus ou mesmo desagradar ao seu pai.”.


Seus atos provocaram reclamações dos anciãos ao profeta já idoso (1 Sm 8:1-5), bem como corroboraram no apelo do povo observando os vícios e desregramentos dos seus dois filhos, pedindo ardentemente por um líder no posto de rei, a fim de governá-los e assim vingar as injúrias sofridas dos filisteus (Josefo).


No cenário político as tribos de Israel se deparavam com os inimigos vizinhos, sobretudo os filisteus. Estes estavam distribuídos em cinco territórios em Canaã compondo uma aristocracia militar originária de Creta. Dominavam a tecnologia do ferro e com seu profissionalismo militar travaram sucessivas guerras contra o povo de Deus neste período (Baldwin).


No cenário religioso, por se tornarem agricultores, os israelitas estavam sujeitos aos deuses da fertilidade como Baal e dagon. Segundo Philbeck, dois fatores teológicos também foram de grande relevância nesta época: Os avanços militares dos filisteus que levariam o povo a crer que Deus era impotente para proteger seu povo contra a força dos deuses os vizinhos. E que o sistema tribal estaria falido, sendo então necessário estar sob o comando de um Rei, como as demais nações. Mas o problema de Israel não estava no sistema de governo tribal, mas sim nas falhas do próprio povo em ser fiel ao seu Senhor, o verdadeiro cabeça do governo de Israel. E também a busca de cada tribo de seus próprios interesses, abandonado o sentido de unidade (Broadman)


O ponto crítico inicial ocorre quando Ofni e Fineias levam a arca do tabernáculo até o campo de guerra contra os filisteus como um amuleto místico, a fim de tentar garantir a vitória do exército de Israel na guerra. O povo rompeu em brados de vitória, gritos de guerra no campo de batalha não conduzem à vitória sem a presença do Senhor dos Exércitos. (! Sm. 4.5-11) Mas gritos e brados não ganham batalhas. A simples presença da arca não garante a presença de Deus. O resultado foi a morte trágica de 30.000 homens e, o mais grave, foi tomada a arca de Deus (Wiersbe). A arca nunca fora retirada do santuário e era vista apenas pelo sumo sacerdote uma vez ao ano. Agora estava exposta, tomada pelos inimigos pagãos. Desolação total. Mas o nome do Deus de Israel não poderia ser ultrajado ante os inimigos. A presença da arca nas cidades dos filisteus só lhe provocaram desastres e pragas dentre o povo que, desesperado, pediam que se livrassem dela. Assim colocaram a arca em carro de bois e a arca volta para os israelitas, que a deixam em Quiriate-Jearim. (1 Sm. 5 e 6)


Vinte anos após o resgate da arca, a nova geração de israelitas, agora revoltados, confrontam Samuel pedindo um rei, à semelhança das nações vizinhas. Segundo Baldwin, “ Israel sentia a necessidade de um líder que unisse as tribos, tivesse um exército fixo e eficiente e estivesse à altura daqueles que conduziam seus inimigos à vitória.”


A princípio Samuel resiste a ideia. Como homem de Deus, em oração vai apresentar ao Senhor a sua angústia, sentindo a rejeição do povo. O Senhor o consola afirmando que o povo não estava rejeitando a Samuel, mas ao próprio Deus. Mesmo assim Deus permite o estabelecimento da monarquia. Pois o interesse de Deus era guiar o seu povo em um período difícil da História não importando o sistema de governo empregado, embora apontado virtudes e limitações de cada um e preservando os seus valores (Purkiser).


Essa foi o principal desígnio de Deus para a vida de Samuel, ser o agente de transição da anarquia dos juízes para o estabelecimento de uma monarquia teocrática. Samuel conduziu o povo novamente ao arrependimento, e Deus o usa para levantar o primeiro Rei de Israel, Saul e seus fracassos, sendo rejeitado pelo Senhor por suas próprias atitudes;,depois Deus levanta um homem segundo o seu coração, o jovem Davi, com o qual estabelece uma aliança eterna. Um dos temas centrais de I e 2 Samuel é justamente o direito divino que Davi recebe, apesar de suas imperfeições, de reinar sobre Israel (Chisholm Jr.), tornando-se o maior e mais querido de todos eles ao longo da história.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BALDWIN, Joyce G. I e II Samuel – introdução e comentário – Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996

JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 2000;

PHILBECK Jr, Ben. Comentário Bíblico Broadman – Volume 3. Rio de Janeiro: JUERP, 1986;

PURKISER, W. T. Comentário Bíblico Beacon – Volume 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2012; 

MICHAELIS:   Moderno   dicionário   da   língua   portuguesa.   São   Paulo: Companhia Melhoramentos, 2019. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/busca?id=3x4L . Acesso em 03 de outubro de 2019.

CHISHOLM Jr,, Robert B. Samuel 1 e 2 - Série comentário expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2017

Foto: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Unci%C3%B3n_de_David_por_Samuel,_de_Antonio_Gonz%C3%A1lez_Vel%C3%A1zquez_(Real_Academia_de_Bellas_Artes_de_San_Fernando).JPG


6 de setembro de 2019

LIÇÕES 4.o TRIMESTRE 2019
O Governo Divino em Mãos Humanas
Sumário:
Lição 1 – Conhecendo os Dois Livros de Samuel
Lição 2 – O Nascimento de um Líder Profético em Israel
Lição 3 – A Chamada Profética de Samuel
Lição 4 – A Degeneração da Liderança Sacerdotal
Lição 5 – A Instituição da Monarquia em Israel
Lição 6 – A Rebeldia de Saul e a Rejeição de Deus
Lição 7 – Davi é Ungido Rei
Lição 8 – O Exílio de Davi
Lição 9 – O Reinado de Davi
Lição 10 – O Pecado do Homem Segundo o Coração de Deus
Lição 11 – As Consequências do Pecado de Davi
Lição 12 – A Rebelião de Absalão
Lição 13 – A Velhice de Davi


Comentarista: Pr.  Osiel Gomes da Silva 
Escritor, conferencista, bacharel em Teologia, Direito e graduado em Filosofia; líder da AD em Tirirical, São Luís – MA.


Lições 4.o Trimestre 2013

Lições 4.o Trimestre 2013
Conselhos para a vida

Lição 1 - O Valor dos Bons Conselhos
Lição 2 - Advertências Contra o Adultério
Lição 3 - Trabalho e Prosperidade
Lição 4 - Lidando de Forma Correta com o Dinheiro
Lição 5 - O Cuidado com Aquilo que Falamos
Lição 6 - O Exemplo Pessoal na Educação dos Filhos
Lição 7 - Contrapondo a Arrogância Com a Humildade
Lição 8 - A Mulher Virtuosa
Lição 9 - O Tempo para Todas as Coisas
Lição 10 - Cumprindo as Obrigações Diante de Deus
Lição 11 - A Ilusória Prosperidade dos Ímpios
Lição 12 - Lança o teu Pão Sobre as Águas
Lição 13 - Tema a Deus em todo o Tempo

Comentarista:

José Gonçalves - Pastor, Professor de Teologia, Escritor e Vice-presidente da Comissão deApologética da CGADB; Comentarista das revistas de Escola Dominical da CPAD.

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