Crescendo na graça e no conhecimento

11 de outubro de 2019

O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL - LIÇÃO  2


A Bíblia de Estudo Apologia Cristã explica bem a questão da origem sacerdotal levita de Elcana, pai de Samuel. Apesar de a clã estar estabelecida em Efraim, sua árvore genealógica mostra sua descendência de Coate, filho de Levi, conforme 1 Crônicas 6:33-38: 
Estes são, pois, os que ali estavam com seus filhos;  dos filhos dos coatitas, Hemã, o cantor, filho de Joel, filho de Samuel, filho de Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliel, filho de Toá, filho de Zufe, filho de Elcana, filho de Maate, filho de Amasai, filho de Elcana, filho de Joel, filho de Azarias, filho de Sofonias, filho de Taate, filho de Assir, filho de Ebiasafe, filho de Corá,filho de Isar, filho de Coate, filho de Levi, filho de Israel.
No texto surgem os nomes de Elcana, o pai de Samuel; o pai de Elcana, Zufe, que inclusive dá nome a aldeia em que moravam; Eliel e Toá são nomes que aparecem modificados em 1 Samuel 1:1 com os nomes de Eliá e Toú. E a descendência levita por meio do filho de Levi, Coate. Daí a base do pleno direito de Samuel em exercer o ministério sacerdotal.


A QUESTÃO DA POLIGAMIA

Algumas práticas de uma cultura se impõem com pujança em determinados grupos sociais. Um destas práticas do mundo bíblico do AT se revela por meio da poligamia (casamento com mais de uma mulher).

Desde o Gênesis a orientação divina era clara quanto ao dever da prática da monogamia no casamento: deixará portanto o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. Gênesis 2:24

O convívio por anos com culturas onde se praticava a poligamia como entre o povo egípcio e os cananeus, influenciaram a tal ponto na formação das famílias patriarcais dos hebreus que o Senhor precisou regulamentar tais práticas quando do estabelecimento da Lei:

Quando um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama e outra a quem despreza, e a amada e a desprezada lhe derem filhos, e o filho primogênito for da desprezada, Será que, no dia em que fizer herdar a seus filhos o que tiver, não poderá dar a primogenitura ao filho da amada, preferindo-o ao filho da desprezada, que é o primogênito. Mas ao filho da desprezada reconhecerá por primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo quanto tiver; porquanto aquele é o princípio da sua força, o direito da primogenitura é dele. Deuteronômio 21:15-17

Não que o Senhor estivesse aprovando tais práticas, pelo contrário. O próprio Jesus censurou os judeus por desajuste semelhante, a prática do divórcio, alertando que no início não fora assim: Disse-lhes ele [Jesus]: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Mateus 19:8

Desta forma, a lei mosaica quando se refere ao casamento com mais de uma mulher não está referendando de forma alguma esta tal prática, mas foi editada para garantir um mínimo de segurança social ao primogênito, se este for filho da mulher não amada, e assim não serem praticadas injustiças e discriminações comuns aos demais povos.

A maioria dos comentaristas bíblicos neste ponto alertam para a permissão da prática pelos hebreus da poligamia na época, porém suas consequências no seio do clã eram desastrosos ao longo de toda a história. Como exemplo, o  tenso ambiente familiar na casa de Abraão, o pai da fé.

A razão de tais práticas no meio de Israel se dava talvez por conta da esterilidade feminina, algo vergonhoso para a mulher (Jô 24:21; Gn. 11:30; 29:31) e que gerava no homem preocupação com a herança (gn. 15:2). Assim a esposa consentia em seu marido gerar filhos por meio de uma escrava, como no caso de Sara e Agar. Mas a recomendação era de que o filho pertenceria tão somente à esposa. No caso de Agar o problema do conflito no ambiente familiar foi terrível, a ponto de Sara forçar a expulsão da concorrente com o seu filho depois que ela gerou a Isaque. Como ainda não estava em vigor a Lei, o próprio Deus interveio se manifestando em forma de teofania e assegurando a sobrevivência e futuro de Agar e seu filho Ismael (Gn. 16:1-13).

No caso de Ana, se repete modo semelhante a cena, em forma de humilhação, deboche, desfeita de Penina para com Ana que a tudo humildemente suportava. Nem mesmo quando de uma festa religiosa, momento propício de confraternização e tolerância Penina perdia a oportunidade irritar a Ana, que a tudo suportava com graça, em meio a lágrimas de angústia e dor. (1 Samuel 1:4-7)

Hoje na sociedade moderna se pratica o poliamor, poligamia disfarçada de relação amorosa. Diferente do caráter do AT de preservação da linhagem familiar, hoje a prática é resultado da perversão sexual mesmo.

VIDA PIEDOSA

Elcana mantinha sua prática devocional oferecendo sacrifícios anuais em Siló ao Senhor dos Exércitos (Yahweh Sabaoth), termo que aparece pela primeira vez no AT no texto que fala sobre o nascimento do profeta Samuel e é recorrente neste livro (1 Samuel 1:4,10, 4:4; 15:2; 17:45). A designação Senhor dos Exércitos descreve Yavé como o Senhor soberano das hostes de estrelas, de anjos e dos exércitos de Israel. (Wiersbe)

As lutas e tribulações no ambiente familiar muitas vezes tentam nos afastar da vida de comunhão e adoração com o Senhor, no entanto, tais lutas também podem servir de combustível para alimentar nossa busca a deus em oração.  Conforme (xxxx) “a adoração constante oferecida ano após ano por Elcana e sua família estabeleceu um exemplo positivo de vida fiel e piedosa; em contraste, sabia-se que os líderes sacerdotais levavam vidas escandalosas (1 Samuel 2.12-17).

SAMUEL: FRUTO DA ORAÇÃO

 E assim fez Ana, depois de anos recebendo provocações e desaforos por parte de sua opositora, Penina. Manteve-se humilde suportando tais afrontas. Aflita, um dia entrou no templo para orar, a fim de buscar socorro em ocasião oportuna (Hb. 4:16). O Antigo Testamento não explica a origem do templo em Silo, onde a tenda da congregação foi armada depois da conquista de Canaã (Js 18.1). Silo foi o principal santuário dos israelitas em todo o período dos juízes (Jz 21.19), mas não se sabe quando a tenda com armação de madeira foi substituída por uma estrutura permanente (Baldwin).

Sua aflição tamanha parecia o ato de uma mulher cheia do vinho, embriagada, aos olhos do sacerdote Eli. Às vezes corremos o risco de ter preconceitos e assim fazer um mau juízo de valor em relação a atitudes de outras pessoas. Ana se esvaziava ao derramar sua alma diante do Senhor. Os líderes espirituais do povo de Deus precisam de sensibilidade espiritual para chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram – Rm. 12:15 (Wiersbe)

Em meio às suas orações, inclui um voto, um compromisso de entregar a Deus o filho caso o Senhor a fizesse conceber. Aqui fica mais uma lição prática para vida: o que motiva as nossas orações? Tiago afirmou que às vezes oramos e não recebemos por que pedimos mal para gastar em nossos próprios deleites. Para que mais tempo de vida, mais dinheiro, mais saberes ?

O fato de como o Senhor livrou a Ana da humilhação prenuncia como o Senhor irá livrar o seu povo de seus inimigos por meio do seu filho (Samuel) e do rei que ele ungirá, como a própria Ana antevê em seu cântico de gratidão. (Chislholm)

Em uma época em que os cananeus adoravam a Baal , o deus da fertilidade agrícola e humana, Ana adora ao único e verdadeiro Deus (Chisholm); enquanto os povos ofereciam aos deuses em sacrifício á morte seus próprios filhos, Ana oferecia a vida inteira e serviço a Deus do seu filho.

 O que estava em jogo era a glória de Deus e o cumprimento dos seus propósitos não apenas em uma vida, mas a Sua ação na história. Deus lembra de Ana. Assim o menino Samuel nasceu, tronou-se um grande juiz, profeta, libertador e sacerdote, além de garantir a transição do governo dos juízes para a monarquia teocrática em Israel. Deus ouviu a oração de Ana e assim o nome de Deus foi e é glorificado, exaltando o poder do seu ungido.

Eli exerceu uma de suas prerrogativas de sacerdote abençoando a mulher aflita, desejando que o Senhor atenda ao pedido que pediu. E Ana, que tinha como significado do nome “ mulher cheia de graça” (Wiersbe), rogou e confiou na graça de Deus sobre sua vida. E foi atendida.

Ana soube em atitude de humildade e fé direcionar as razões do seu pedido para glorificação do se Deus Todo poderoso, o Senhor dos Exércitos, dedicando o seu filho a Deus, inclusive lhe comprometendo com o voto de nazireu, previsto em Números 6.1-25.

Ela não tinha a garantia de ter outros, apesar de a graça de Deus não ser limitada, fazendo-a conceber outras vezes. Mesmo assim depois do menino desmamar, três anos depois, ela entrega sua oferta maior ao sacerdote Eli, em profundo ato de adoração ao Senhor.

E assim Israel ganhou um profeta, um sacerdote, um líder  que, embora sendo rejeitado circunstancialmente pelo povo, teve seu ministério reconhecido e honrado por Deus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BALDWIN, Joyce G. I e II Samuel – introdução e comentário – Série Cultura Bíblica. São Paulo: Edições Vida Nova, 1996

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2009
CHISHOLM Jr,, Robert B. Samuel 1 e 2 - Série comentário expositivo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2017

 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico do Antigo Testamento. Vol.2 . São Paulo: Geo-Gráfica e Editora, 2010.  
Foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Samuel_(Bíblia)

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Lições 4.o Trimestre 2013

Lições 4.o Trimestre 2013
Conselhos para a vida

Lição 1 - O Valor dos Bons Conselhos
Lição 2 - Advertências Contra o Adultério
Lição 3 - Trabalho e Prosperidade
Lição 4 - Lidando de Forma Correta com o Dinheiro
Lição 5 - O Cuidado com Aquilo que Falamos
Lição 6 - O Exemplo Pessoal na Educação dos Filhos
Lição 7 - Contrapondo a Arrogância Com a Humildade
Lição 8 - A Mulher Virtuosa
Lição 9 - O Tempo para Todas as Coisas
Lição 10 - Cumprindo as Obrigações Diante de Deus
Lição 11 - A Ilusória Prosperidade dos Ímpios
Lição 12 - Lança o teu Pão Sobre as Águas
Lição 13 - Tema a Deus em todo o Tempo

Comentarista:

José Gonçalves - Pastor, Professor de Teologia, Escritor e Vice-presidente da Comissão deApologética da CGADB; Comentarista das revistas de Escola Dominical da CPAD.

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